Carta de Victoria Ash à sua Criança da Noite

Carta de Victoria Ash à sua Criança da Noite – Curitiba, 2025

“Para alguns, o abraço é um presente. Para outros, uma maldição. Para mim, foi arte.”
— V.A.

Curitiba, 21 de junho de 2025

Minha querida Mariana,

Faz exatos vinte e cinco invernos que deixei você às margens da noite. Um quarto de século observado à distância — com orgulho, temor e, por vezes, uma pontada de pesar. Esta carta é tardia, eu sei, mas não é menos sincera por isso.

É chegada a hora de falar com franqueza, como uma Sire deve falar com sua criança.

O que eu sou, o que agora você é

Você já deve ter compreendido parte disso em seus próprios passos pela escuridão. Mas ouça de mim: não somos mais humanos. O que pulsa em nossas veias não é vida, mas sim Vitae, o sangue roubado dos vivos que nos sustenta. Somos Kindred, os Condenados, os portadores da Máscara.

Sim, eu sou uma vampira. Desde muito antes de cruzar seu caminho naquela noite chuvosa em Curitiba. E ao fazer de você minha criança, não apenas o salvei da morte — o condenei à eternidade. Peço perdão por isso, se ainda for capaz de senti-lo.

Por que me mantive distante

Você deve ter se perguntado — por que me abandonar logo após o Abraço?

A verdade, como muitas entre os nossos, não é simples. Victoria Ash não é apenas uma Sire. Sou figura pública, peão e rainha em tabuleiros que vão muito além do seu alcance naquele tempo. Minhas aparições são calculadas, meus afetos vigiados. Um envolvimento direto teria chamado atenção demais, colocado você em risco — e, francamente, comprometido minha posição.

Mas não se engane: eu sempre estive por perto. Vi quando se refugiou nos esgotos com os Nosferatu por três noites. Quando quase perdeu o controle sobre a Besta diante de um policial que não sabia o que você era. Quando encontrou abrigo em um clube Toreador da Rua XV e ali sentiu, pela primeira vez, o eco da nossa verdadeira natureza: a busca por beleza mesmo na desgraça.

Você sobreviveu. E essa é a maior prova de valor entre os nossos.

O que você deve saber para sobreviver

Permita-me, agora, deixar claro o básico — porque há coisas que mesmo após 25 anos talvez você ainda não entenda por completo:

  • A Máscara é sagrada. Nunca revele o que somos aos mortais. Eles não entenderiam. Eles matam o que temem. E há organizações inteiras que caçam nossa espécie.
  • A Besta vive dentro de todos nós. É o instinto animal, o predador que quer tomar o controle quando sentimos fome, medo ou raiva. Domine-a, ou será dominado.
  • A Humanidade é sua âncora. Perder-se significa tornar-se uma criatura monstruosa, irreconhecível até para seus pares.
  • O sangue é poder. Com o tempo, você perceberá que não há gesto, palavra ou olhar entre os Kindred que não seja um jogo de influência. O sangue molda vínculos, comanda vontades, eterniza servidões.
  • Você pertence a um clã. No seu caso, um reflexo do meu — os Toreador. Artistas da eternidade, amantes do efêmero. Nós buscamos beleza mesmo que ela nos destrua.

E lembre-se: a Camarilla ainda vigia. Mesmo aqui, nas sombras da América do Sul.

Um novo ciclo começa

Agora, talvez, estejamos prontos para nos encontrarmos novamente. Você sobreviveu — mais do que isso, floresceu na penumbra. E eu? Eu o observei o bastante. É hora de ver com meus próprios olhos o que você se tornou.

Nos vemos em breve. E, por favor, não me decepcione.

Com toda a elegância e ferocidade que o Abraço permite,
Victoria Ash

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